Orelha-de-pau em Joias e Telas
Adélia Maria Lopes
O Estado do Paraná
Parece coisa esquecida na terra, uma insignificância encrustrada em um tronco podre, um desiludido invento de Deus, pois de nada serve, da no brejo e não se faz notar. Nem nome tem: é chamado de orelha-de-pau. Mas, aos olhos de poetas, é uma flor de muitas possibilidades. E nas mãos de uma artista, a poesia se concretiza.
Lélia Copruchinski não pisou nesses cogumelos, nem os considerou obra menor de um Deus caprichosamente ecológico. Fez deles tema de telas luminosas e de joias em prata, zircônio e pérolas. Será por que Lélia mora no Boqueirão? Será por que teima em viver com os olhos baixos? Será por que aprecia assuntar o mato do sitio dos pais? "Achei os cogumelos orelhas-de-pau bonitos, de diversas cores", responde, com simplicidade. E ela visualiza todas as tonalidades nesses cogumelos, aparentemente, sempre amarelos, enferrujados.
Se Deus escreve certo por linhas tortas, deixou nas mãos de Lélia o prazer de dar as voltas. Nos pingentes, nos anéis e nos brincos, estão lá os cogumelos com todos seus instigantes volteios. Lélia feriu as mãos, imaginou todas as possibilidades, e fez em prata os cogumelos, reluzentes, sofisticados, as vezes contrastante ao couro preto.
A artista também pinta por linhas tortas. E surgem nas telas, emulsionadas com a arredia tinta óleo, os cogumelos e todos seus recortes e cores que a natureza lhe deu. Com orelhas-de-pau, esse serzinho tão desnecessário que a gente nem pode comer, Lélia fez pois duas artes: joias e pinturas.
Antes desses efêmeros cogumelos, Lélia debruçou seu olhar em Curitiba, ao lado da moderna arquitetura, viu lixeiras, bancos de praça - essas coisinhas que também se acabam com o tempo. E fez delas joias - uma das mais belas homenagens para a cidade nos seus 300 anos.
Depois olhou para as pinturas de Diana Nasser e Lélia Brown e aceitou o desafio de fazer delas parceiras de suas joias.
O olhar de Lélia Copruchinski não "sofre de nobrezas", mas nobre é seu olhar. Suas mãos não sofrem de solenidade, mas o que toca toma-se solene. Sofrem de sabedoria vegetal. "Sabedoria vegetal é receber com naturalidade uma rã no talo", diz o poeta Manoel de Barros, de quem surrupiei muitas palavras diante da arte de Lélia. Pois só com poesia para medir os encantos de uma orelha-de-pau. Não há melhor fita métrica. (A.M.L.)
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